Pesquisar este blog

sexta-feira, 30 de dezembro de 2011

Lapso Temporal

Primeiramente peço desculpas àqueles que seguem o blog pelo grande lapso temporal entre minha última postagem e hoje. Ele se deve a princípio à uma decepção (por questões pessoais, não explicitarei aqui) e, em segundo lugar, ao último capítulo da minha história de amor.
Sim, a minha  história de amor com a 8802 teve um fim. Infelizmente.
O motivo do término do nosso relacionamento será revelado na minha última postagem aqui. Seguirei em janeiro, aproveitando as férias, postando a cada dia um pouquinho do cotidiano da minha 8802 na ordem temporal, pois acho que assim o leitor conseguirá acompanhar melhor.
Aproveitarei esta postagem "intimista" para prestigiar os meus meninos. Em 2011 estivemos concorrendo ao Troféu RioEduca e chegamos a ser finalistas (deixarei os detalhes para uma outra postagem) com o seguinte vídeo:


Tivemos vários momentos maravilhosos juntos; dois deles foram sensivelmente reportados pela Professora Imaculada Conceição (representante da 6a. CRE no portal RioEduca - quer conhecê-lo? O link está aí ao lado), como se pode ser lido em:



Agora estamos concorrendo ao Desafio Rioeduca, cujo resultado sairá no dia 1o. de fevereiro. Este novo desafio é na verdade um compartilhamento de experiências dos Professores da Rede Municipal da Cidade do Rio de Janeiro. Os textos mais comentados, que estão sendo veiculados no site do Jornal O Globo, estarão entre os finalistas. Gostaria muito de dar este prêmio aos meus meninos. Mostrar a eles que nosso trabalho, nosso esforço, nossa dedicação, valeram a pena. E você pode nos ajudar, deixando seu comentário ao final do texto do link:

8802 no "Educação Nota 10" - Jornal O Globo - Autonomia Carioca: a semente da criatividade

Outro texto que está concorrendo ao Desafio RioEduca é o de uma querida amiga e extremamente competente professora: Luciana Lima. Também peço sua ajuda, deixando seu comentário no link:


Espero que entendam e que, a partir de agora, possamos continuar juntos conhecendo como foi a minha caminhada junto com a turma 8802 da E.M. Levy Miranda. 

Um bju no coração de todos!

terça-feira, 18 de outubro de 2011

O Primeiro Estresse... De Muitos!

          Foi em uma terça-feira, daquelas que a gente quer cortar do calendário, após passar a manhã inteira planejando (temos a maioria das quartas-feiras livres para planejamento, mas esse quantitativo de horas não chega a ser nem metade do que necessito). Percebo logo no início da aula que a turma está diferente: agitada, um brigando com o outro, recusando as atividades propostas... A primeira atividade até que foi razoável; na segunda, o caos se instalou: interrompi tudo, solicitei que abrissem o caderno e copiassem nosso Pacto de Convivência. Para cada item, eles fizeram uma auto avaliação oral, exercício que os fez refletir sobre suas atitudes. Conversei sobre a importância do bom relacionamento com os colegas, mas havia algo que estava me incomodando muito ali e tinha quase a certeza de que era isso a razão do caos: tínhamos um grupo de alunos analfabetos e outro grupo de analfabetos funcionais. Alunos com essas dificuldades não poderiam continuar no Projeto Autonomia Carioca, pois não conseguiriam acompanhar as aulas. Seria injusto com esses meninos mantê-los em uma classe de aceleração, sendo que a característica fundamental – estar alfabetizado – eles não possuíam plenamente, o que justificava um aluno disperso e agitado(r) naquele momento. E, como não sou alfabetizadora, não poderia ajudar nessa tarefa. Que atitude tomar? Sinalizei à Direção da escola e pedi o auxílio do Coordenador Pedagógico, que ficou de me dar uma resposta em poucos dias. Saí da escola neste dia rouca, chateada e mentalmente exausta. Foi o começo dos dias nublados.



domingo, 4 de setembro de 2011

A Avaliação Diagnóstica de Matemática

               Antes de começarmos qualquer matéria, a a Fundação Roberto Marinho aplica uma avaliação diagnóstica de Matemática e outra de Português. No dia planejado para a aplicação da avaliação de Matemática, houve tiroteio nas proximidades (estamos localizados perto da comunidade do Chapadão, que há uns 2 anos vem sofrendo com constantes tiroteios). Havia pouquíssimos alunos - sinceramente não entendo como uma mãe ou um pai manda seu filho para a escola sob um forte tiroteio... O planejamento foi mudado e a avaliação foi adiada para a próxima aula. Neste dia, os alunos ficaram nervosos quando falei "avaliação". Expliquei a eles que essa avaliação seria um parâmetro para sabermos o que eles sabem atualmente e confrontar o resultado com uma nova avaliação daqui a algum tempo. Seria também uma forma de avaliar meu trabalho, se estou atingindo os objetivos propostos. A tensão sumiu, ficaram mais relaxados. Era uma avaliação que considerei muito fácil, com questões simples. Achei que eles "tirariam de letra". Mas... (quando chega a hora do "mas...", sempre tem um probleminha) para meu espanto, a média da turma foi 2,0. "- Como assim, 2,0?" - eu me perguntava. Decidi corrigir a avaliação junto com eles, para que vissem onde estavam errando. Eles mesmos, ao final da correção, disseram que erraram coisas bobas e que, se tivessem prestado mais atenção, teriam tido um resultado melhor. Percebi que teria muita dificuldade em trabalhar o raciocínio lógico dos meus meninos. Mas sabe de uma coisa? Fui muito bem explicando Matemática! :)

sábado, 3 de setembro de 2011

O Pacto de Convivência

               Logo na primeira semana me tornei a "cri-cri" da Autonomia. Quero dar aulas usando o datashow, pois acho que a aula assim apresentada chama muito mais a atenção dos alunos. O problema é que o datashow fica no auditório da escola, que é lindo! Lógico que a Diretora fica receosa em liberar o auditório para uma turma de projeto. Entendo perfeitamente: ela nunca me viu fora da quadra dando aulas. Deve ter se questionado se eu conseguiria segurar meus meninos. Preparei uma apresentação em PowerPoint para passar para eles, mas não consegui. A escola tem vários aparelhos de datashow para usarmos quando a Educopédia for instalada, mas eles não seriam abertos antes da hora. A partir daí a Diana começa a ser "cri-cri". Muito complicado ter a tecnologia a seu alcance, mas não poder usá-la... A história do "gostaria de usar o auditório" ainda terá vários capítulos. :)
               Construímos nosso Pacto de Convivência, que é o conjunto de regras que todos, inclusive a professora, devem seguir dentro da sala de aula e também nos outros ambientes da escola. A participação coletiva criou as seguintes normas:

PACTO DE CONVIVÊNCIA

  •     Respeitar a Professora e as Diretoras da Escola.
  •    Não ficar de “saliência” com as meninas.
  •   Ser educado com o colega: dizer “por favor”, “obrigado”, “com licença”, “desculpe”, etc.
  •   Não fazer bagunça na sala de aula.
  •   Fazer a higiene pessoal antes das aulas.
  •   Estudar para fazer as provas.
  •   Não chegar atrasado e vir uniformizado.
  •   Não xingar e nem colocar apelidos nos colegas.
  •   Usar roupas decentes nas aulas de Educação Física.
  •  Não usar telefone celular na sala de aula – a Professora pode atender se for da Creche de seu filho.
  •   Manter a sala limpa: não jogar lixo no chão, não pichar, não escrever na mesa, etc.
  •   Não ficar de vandalismo na Escola.
  •  Tirar um tempo no final da aula para conversar e desenhar, caso a turma fique quieta (se sobrar tempo).
  •   Não brigar na Escola e nem na rua.
  •  Evitar faltas às aulas. E avisar com antecedência se souber que precisará faltar.
  •   Comprometer-se a cumprir o Pacto de Convivência.

               Um fato interessante foi que o "não ficar de saliência com as meninas" foi sugerido pelos próprios meninos. Adorei! Noto que a união já começa a nascer desse grupo.

sexta-feira, 2 de setembro de 2011

O Primeiro Choro

                Foi logo na primeira aula. Pelo o que vejo nas reuniões da aceleração, os alunos de projetos são um tanto quanto hostilizados pelos alunos regulares e até mesmo por alguns membros do Corpo Docente e da Direção da escolas. Quase sem exceções. Entendo que muitos são alunos da escola há 2, 3 anos... E continuam no 6o. ano... Entendo que alguns já fizeram muita besteira, já atrapalharam as aulas de muitos professores e deram bastante trabalho para a Direção. Mas isso não significa que eles não possam mudar - talvez eles não se encaixem no perfil da escola tradicional e uma metodologia nova faça com que eles se tornem novos alunos: conscientes, responsáveis, estudiosos... É com esse pensamento que entro em sala de aula. Tenho 28 alunos; destes, conheço 3: Psi, Omicron e Gama. Nunca me deram trabalho nas aulas de Educação Física, mas já ouvi muito falar do que são capazes na sala dos professores... Ksi também me é conhecida; porém, nunca fui professora dela - ela "matava" aula em 2010 e se infiltrava entre os alunos de Educação Física. Ksi tem fama de "barraqueira", arruma confusão por qualquer coisa. Fiquei receosa, confesso. Mas abri o coração e "entrei de cabeça" no nosso Período de Integração (15 dias de atividades quebra-gelo, dinâmicas de grupo, avaliação e diagnóstico da turma). Fizemos uma dinâmica onde havia duas caixas: uma bonita e uma feia. Os alunos escreveram em um papel uma característica boa e em outro, algo ruim sobre eles, mas dessa vez anonimamente. Li em voz alta as características boas e disse que a partir daquele momento, as coisas da caixa feia ficariam ali trancadas. Joguei a caixa fora. Um lindo simbolismo. Ao final da aula, cada um recebeu uma estrela de cinco pontas, onde deveriam escrever seus nomes e responder a algumas perguntas, tais como: "O que espero?", "O que ofereço?", "Meu medo é...". Ao final, fizemos um mural com as nossas estrelas. Era de fundo azul, assim como o céu o é. Após todos colarem suas estrelas, eu fixei um cartaz onde se lia: "O céu é o nosso limite". Ao mostrar a eles o trabalho pronto, disse que eles seriam as estrelas da nossa sala de aula e que em nenhum momento eles deveriam se sentir menosprezados por serem "de projeto". Foi aí. Chorei. A reação deles? Surpresa. Não estavam acostumados com sensibilidade: vivem uma vida dura e sofrida. Fiquei com vergonha, mas essa sou eu; se eu for ficar com eles por dois anos, durante quatro horas por dia, vão me ver chorar muito ainda!

Ao final da aula, fui questionada:
"- Professora, porque a senhora é boa?"
"- Lá vem bomba!" - pensei. E perguntei:
"- Boa? Como assim?"
A resposta?
"- Você é a melhor professora que eu já tive..."
E ele vira as costas, me deixando sem palavras e com lágrimas nos olhos.



quinta-feira, 1 de setembro de 2011

(Re)Conhecendo os Alunos

               A Semana de Capacitação passou bem rapidamente. Com tantas informações, tantas dinâmicas e tanta expectativa para conhecer minha turma, tudo ficou mais leve e fluiu de uma maneira bem tranquila. Durante o final de semana, a ansiedade cresceu, na mesma medida em que o medo de fracassar também tentava me dominar. Segunda-feira finalmente chegou e, quando pergunto na escola qual seria a minha turma, a resposta me agonia ainda mais: "- Depois que todos os alunos subirem, vão restar somente os do projeto; daí, a gente separa as turmas". Mas as duas turmas de aceleração 2 já estavam separadas; o que faltava era decidir qual seria a professora de cada uma delas: Natasha ou eu. A diretora faz a chamada oral de uma das turmas. Vejo algumas carinhas conhecidas. "- Será que é essa, será que é essa?" - eu perguntava a mim mesma. Quando chega na letra V, ela diz: "- Esses alunos serão da professora Diana". Medo. Alegria. Ansiedade. Tensão. "- Preciso conquistar esses meninos hoje", eu pensava. Começamos aí nosso Período de Integração.

Nota: para evitar expor os alunos, decidi trocar seus nomes por letras do alfabeto grego. Sendo assim, meus alunos são: Alfa, Beta, Gama, Delta, Épsilon, Dzeta, Eta, Iota, Capa, Lâmbda, Mi, Ni, Ksi, Omicron, Pi, Rho, Sigma, Tau, Upsilon, Phi, Khi, Psi e Ômega. Não seguirei a ordem alfabética; fiz a correlação aleatoriamente. Deixei a letra Teta de lado, pois atualmente só tenho 23 alunos e o alfabeto é composto de 24 letras. No início havia mais alguns alunos que tiveram que nos deixar (posteriormente direi o motivo); esses identificarei pelas iniciais do nome, caso venha a me referir a algum deles.


quarta-feira, 31 de agosto de 2011

A Semana de Capacitação

               Cheguei à Semana de Capacitação cheia de dúvidas e com muita curiosidade acerca de como seria a metodologia do Projeto Autonomia Carioca. Sabia que era diferente, pois no ano anterior havia duas turmas de aceleração 3 em uma das escolas em que trabalho e, quando passava na porta da sala dessas turmas, via os alunos em círculo e cartazes colados por todas as paredes. A professora se apresentou, uma paraibana "porreta" de simpática, que logo conquistou a todos da sala. Havia mais duas pessoas com ela: Juliana e Romero, que a ajudavam ao longo do dia. Como no local as cadeiras eram fixas no chão, não pudemos passar a semana em círculo, como prevê a metodologia, mas a dinamização das aulas nos foi passada com bastante clareza e entusiasmo. Basicamente, a aula se divide em: Acolhida (quando o professor recebe os alunos no início da aula), Problematização (seria uma atividade que faça com que o aluno se interesse pelo assunto da aula; preferencialmente contextualizando o conteúdo a ser visto), Apresentação da Teleaula (ah, esqueci de dizer que a metodologia se baseia nas teleaulas do Telecurso - Fundação Roberto Marinho), Leitura de Imagem (uma interpretação do que foi visto na teleaula; a "alfabetização do olhar", Trabalho com o Livro (onde o professor norteia o aluno em seu trabalho de aquisição do conhecimento), Atividade Complementar (parte da aula onde o professor pode sugerir atividades que não estejam no livro) e Avaliação (tanto da aula, quanto dos alunos e do próprio professor). A partir da descrição da metodologia, comecei a perceber o quão interessante seria estar com os alunos, e o quanto de dedicação eu teria que ter pelo Projeto. Continuando com a metodologia, a turma também deve ser dividida, desta vez em 4 equipes: Coordenação (os participantes são responsáveis pelo andamento das tarefas do dia, por ajudar o professor no que ele precisar, por cuidar do material comum e pela limpeza e organização da sala de aula), Avaliação (responsável pela análise dos prós e contras das aulas, da participação dos alunos e também do professor), Síntese (extremamente importante, pois eles são responsáveis por fazer um resumo da aula anterior e apresentar aos colegas) e Socialização (responsável pelas comemorações, lembretes de aniversário e também por perceber se algum colega precisa de ajuda na caminhada). Ao saber disso, comecei a ficar receosa, pois sei o quanto é difícil para os alunos trabalharem em grupo. Sim, é essencial que trabalhem em grupo. Até eu mesma tenho problemas no trabalho em grupo, admito. Sou extremamente perfeccionista e muito crítica sobre o que faço. Nem todo mundo é assim. Mas desenvolvi bastante esse lado - aceitando o trabalho em equipe - durante esse período. Uma imagem que, ao meu ver, resume a metodologia do Projeto Autonomia Carioca é:


               A difícil e motivante tarefa de ensinar a conviver. :)

terça-feira, 30 de agosto de 2011

Como tudo começou...

               Em janeiro de 2011, fui convidada por uma das escolas onde trabalho - E.M. Comandante Arnaldo Varella -  a ser regente de uma "turma de projeto". Os motivos pelos quais fui convidada foram uma conjunção de coincidências, associadas ao meu perfil, que se encaixa perfeitamente no perfil que a Secretaria Municipal de Educação gostaria que os regentes das turmas de aceleração tivessem. Com muito medo e ansiedade (que estarão presentes a todo momento), aceitei a proposta e, por uma semana, acreditei que daria aulas para uma turma de Aceleração 3, que compreenderia alunos de 7o. e 8o. anos, mas que estivessem com idade superior à média dos alunos desses anos. Ao final dessa semana, recebi uma ligação da Diretora Adjunta dizendo que essa turma teria que ser fechada e que eu somente ficaria na escola com a minha matrícula de Educação Física. Já estava com planos para a turma, que "balde de água fria"! Com minha segunda matrícula, estou lotada na E.M. Levy Miranda, de onde eu seria cedida para ficar com a turma da E.M. Comte. Arnaldo Varella. Voltando para a E.M. Levy Miranda, havia uma vaga também em turma de projeto; porém, esta seria de Aceleração de Estudos 2 - alunos que estão no 6o. ano. Claro que aceitei! Mas novamente o medo e a ansiedade me assolavam... Até que, para desanuviar minha mente, veio a Semana de Capacitação.