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sexta-feira, 2 de setembro de 2011

O Primeiro Choro

                Foi logo na primeira aula. Pelo o que vejo nas reuniões da aceleração, os alunos de projetos são um tanto quanto hostilizados pelos alunos regulares e até mesmo por alguns membros do Corpo Docente e da Direção da escolas. Quase sem exceções. Entendo que muitos são alunos da escola há 2, 3 anos... E continuam no 6o. ano... Entendo que alguns já fizeram muita besteira, já atrapalharam as aulas de muitos professores e deram bastante trabalho para a Direção. Mas isso não significa que eles não possam mudar - talvez eles não se encaixem no perfil da escola tradicional e uma metodologia nova faça com que eles se tornem novos alunos: conscientes, responsáveis, estudiosos... É com esse pensamento que entro em sala de aula. Tenho 28 alunos; destes, conheço 3: Psi, Omicron e Gama. Nunca me deram trabalho nas aulas de Educação Física, mas já ouvi muito falar do que são capazes na sala dos professores... Ksi também me é conhecida; porém, nunca fui professora dela - ela "matava" aula em 2010 e se infiltrava entre os alunos de Educação Física. Ksi tem fama de "barraqueira", arruma confusão por qualquer coisa. Fiquei receosa, confesso. Mas abri o coração e "entrei de cabeça" no nosso Período de Integração (15 dias de atividades quebra-gelo, dinâmicas de grupo, avaliação e diagnóstico da turma). Fizemos uma dinâmica onde havia duas caixas: uma bonita e uma feia. Os alunos escreveram em um papel uma característica boa e em outro, algo ruim sobre eles, mas dessa vez anonimamente. Li em voz alta as características boas e disse que a partir daquele momento, as coisas da caixa feia ficariam ali trancadas. Joguei a caixa fora. Um lindo simbolismo. Ao final da aula, cada um recebeu uma estrela de cinco pontas, onde deveriam escrever seus nomes e responder a algumas perguntas, tais como: "O que espero?", "O que ofereço?", "Meu medo é...". Ao final, fizemos um mural com as nossas estrelas. Era de fundo azul, assim como o céu o é. Após todos colarem suas estrelas, eu fixei um cartaz onde se lia: "O céu é o nosso limite". Ao mostrar a eles o trabalho pronto, disse que eles seriam as estrelas da nossa sala de aula e que em nenhum momento eles deveriam se sentir menosprezados por serem "de projeto". Foi aí. Chorei. A reação deles? Surpresa. Não estavam acostumados com sensibilidade: vivem uma vida dura e sofrida. Fiquei com vergonha, mas essa sou eu; se eu for ficar com eles por dois anos, durante quatro horas por dia, vão me ver chorar muito ainda!

Ao final da aula, fui questionada:
"- Professora, porque a senhora é boa?"
"- Lá vem bomba!" - pensei. E perguntei:
"- Boa? Como assim?"
A resposta?
"- Você é a melhor professora que eu já tive..."
E ele vira as costas, me deixando sem palavras e com lágrimas nos olhos.



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